O Livro Livre



Sempre que eu penso na chegada do meu livro, sinto automaticamente um frio na barriga. É inevitável, às vezes estou de boas descendo o feed de notícias do Facebook e... Booom! Lembro que meu livro está sendo publicado e que logo ele vai chegar na minha casa. E nas livrarias. E na casa das outras pessoas. Elas vão pegar meu livro, folhear as páginas... E vão conhecer a história que eu escrevi. Vão conhecer meus personagens, minha forma de narrar, meus pequenos tiques literários... Vão conhecer tudo. Minha história vai ganhar o mundo, vai fugir do meu controle, não vou poder acompanhar o que cada um vai sentir enquanto estiver passando as páginas. Não vou poder ver seus rostos contorcidos de horror nas cenas pesadas, as expressões de surpresa nos plot twists e, principalmente, não vou ver seus risos tímidos (e talvez de vergonha alheia) que poderão soltar em algumas cenas.
A Lilith, o Seth e o Nathan vão ganhar o mundo. Irão conhecer meus protagonistas, seus problemas, anseios e medos. A raiva, o preconceito e o bullying. Tudo, tudo, tudo. Vai tudo estar longe das minhas mãos.
E não poderia estar mais empolgada para isso acontecer. O frio na barriga acontece, mas é de ansiedade — aquela ansiedade boa, que te causa um comichão por todo o corpo e te faz sorrir involuntariamente. Existe o medo? É claro! Muito medo, mas sempre me advertiram que não dá pra agradar todo mundo. E só de agradar as pessoas que gostaram do que eu escrevi, da minha trama e do todos os pedaços de alma que coloquei em cada frase (não são mônadas, galera rs /interna) eu já fico feliz :3
Eu acho que estou pronta. A respiração ainda fica um pouco descompassada quando penso sobre o assunto, mas isso vai passar. E, quando eu abraçar meu livro pela primeira vez, vou ter a certeza que chegou a hora de finalmente aceitar que nada mais está sob meu controle. E isso é bom.
Chegou a hora do meu filho crescer e sair de debaixo das minhas asas.



Precisamos falar sobre as personagens femininas nos livros




A primeira coisa que eu faço quando acordo, antes mesmo de descobrir que horas são, é olhar meus e-mails, porque quando a gente está publicando um livro nunca se sabe quando algo importante pode chegar. E então eu me deparei com váááários e-mails, só que não era spam ou da Chiado, mas sim do Wattpad (publico Oposição lá para degustação e outra história também, um spinoff de Stellium, Escarlate, mas que não necessita saber a história original para ler. É tudo bem explicadinho pra qualquer um que nunca tenha esbarrado em Oposição consiga entender). Eram todos comentários para Escarlate, uma menina que ia lendo e comentando parte por parte. Estava muito feliz até que... Ela vira e chama a minha personagem de Mary Sue. Vocês devem estar se perguntando: "Ah Thaísa, qual é o problema, todo mundo tem o direito de não gostar de uma personagem". Sim, real, eu mesma tenho vários leitores que odeiam a protagonista de Escarlate, a Aquamarine, mas essa é a proposta dela. Ela foi feita para ser odiada no início, porque ela é realmente detestável. Contando um pouco sobre ela, a Aquamarine vive em uma dimensão onde sua família é a mais rica de todas, portanto seus pais nunca estiveram presentes, sempre ocupados com o trabalho. Ela nasceu tendo dinheiro, fama e status social, mas foi largada pelos pais e criada sem ninguém para dar suporte a ela. Cresceu uma garota esnobe, fútil, metida, humilhando gente pobre e sem nome, não sabe nadar, não sabe cozinhar e limpar, tem uma inteligencia emocional nula e dorme abraçada com travesseiros toda a noite devido ao vazio que a falta da presença dos pais fez em sua vida. Mas ao mesmo tempo é bonita, inteligente, popular. E isso pareceu incomodar.
Fico me perguntando: como uma personagem tão cheia de defeitos conseguiu de cara o estigma de Mary Sue? Eu não consigo deixar de atribuir isso a uma certa dificuldade que as pessoas tem de aceitar personagens femininas com qualidades o suficiente que as deixem fortes e humanas. Uma Mary Sue é uma personagem perfeita, sem falhas, ela é doce e tudo que ela faz é bom. É como se fosse a encarnação da perfeição na Terra, ninguém as odeia e ela faz todos se apaixonarem por ela, devido ao seu carisma e facilidade de fazer amigos. Algo que a Aquamarine, definitivamente, não é. Mas ela é bonita E inteligente (acreditem: eu recebi um comentário estranhando ela ser bonita e inteligente uma vez!!! Como se fosse um ABSURDO uma mulher possuir essas duas qualidades). Também é rica e popular. Pronto, de cara todas as características negativas dela são apagadas porque ela é uma pessoa privilegiada. É como se personagens feminina nunca pudessem ser fortes o suficiente. Protagonistas de livros precisam aparentar fragilidade, pobreza, feiura (nem que seja ocasionada só por causa de um óculos...) e sempre serem menores e inferiores que o resto dos personagens da trama. Quando as pessoas encontram protagonistas que fogem desse clichê, elas se assustam, porque existe toda uma cultura literária dizendo o tempo todo que as mulheres não podem ser tudo isso ao mesmo tempo. Personagens femininas tem que possuir falhas para serem humanas, mas ao mesmo tempo, as falhas tem que ser BEM MAIORES que as qualidades, porque senão ela é imediatamente desqualificada e não tida como real. Quantos personagens masculinos nós vemos por aí que possuem muitas qualidades, mais até do que seria considerado normal, e NUNCA são chamados de Gary Stu? Pois é. Eu mesma nunca vi esse termo sendo usado pra classificar algum personagem masculino, somente na teoria. 
A questão aqui é a seguinte: a misoginia existe. Não só no mundo real, ela também se arrasta para a literatura, agarrando as personagens femininas e as limitando cada vez mais, colocando rótulos e não as deixando serem o que o autor almejava que elas fossem: reais e humanas.
Podem chamar a Aquamarine de fútil, de chata, de nojenta, de irritante. Podem ter pena dela, podem ter compaixão, podem ter raiva. Mas Mary Sue? Mary Sue eu não aceito, tirem a misoginia de vocês de cima da minha personagem, porque não vai rolar.


Thaísa Lixa

Sobre ser escritora e não saber o que escrever


Desde que resolvi me aventurar nesse mundo louco de publicar um livro, várias pessoas e sites de conselhos para escritores falavam que eu deveria criar um blog. "Vai ser bom para a sua divulgação" disseram alguns, "as pessoas vão querer saber como você escreve" disseram outros (esse me deixou até assustada, porque né, imaginar alguém fuçando as minhas redes sociais para avaliar como é a minha escrita me deixa um pouco temerosa  o que eu sei que não deveria acontecer, já que estou publicando um livro).
Foram vários meses lendo e ouvindo essas mesmas opiniões, até que eu resolvi me render e começar um blog. E o motivo de não ter começado antes nunca foi vergonha ou qualquer sentimento do tipo, mas sempre "o que eu vou escrever?". Sinceramente, até agora eu não sei. Não faço a mínima. Eu realmente sou apaixonada por escrever, já tive vários blogs na vida (comecei nessa vida de blogueira aos 11 anos) e sempre acabava os abandonando pelo mesmo motivo: não sei o que escrever. Eu tenho uma imaginação muito fértil, mas isso para histórias e contos. Na hora de falar sobre mim, eu travo. Sempre amei escrever crônicas, mas nunca as achava interessantes o suficiente para despertar atenção de alguém. Já as histórias que eu escrevo, modéstia a parte, eu quero mostrar para o mundo. Quero que as pessoas conheçam meus livros, leiam minhas histórias, escrevam fanfics, façam fanarts, me adicionem no Facebook e falem dos meus personagens comigo. É o que eu mais quero na vida, é o meu sonho. Eu sei fazer várias coisas nessa vida, mas não existe nada que eu ame mais fazer do que escrever. Nada, nada me seduz mais do que criar histórias, do que me teletransportar para um mundo só meu, que logo em seguida será compartilhado com várias pessoas. Um conhecido me disse uma vez que era engraçado ver a minha relação com Stellium, que eu era fangirl da minha própria história e, sinceramente, nunca ouvi nada mais real. Escrever histórias é a minha paixão, é o que eu sei fazer. Crônicas eu ainda me enrolo um pouco, como puderam perceber, já que eu comecei em um assunto e de repente fui pra outro...
Mas vou me esforçar, afinal, acho que seria importante tentar manter esse blog. Quero muito contar a vocês todas as minhas experiências sendo escritora no mercado editorial brasileiro, esse monstro que assusta todos os novos escritores. Acho que vai ser legal e quem sabe no meio desse caminho eu não acabe ajudando alguém, não é? Às vezes tudo o que precisamos é encontrar alguém que esteja passando pelos mesmos conflitos mentais e dificuldades que a gente :)


Thaísa Lixa